Depois de analisar novamente o jogo de ontem ao pormenor, é fácil discernir onde melhoramos e onde pioramos.
Melhorias:
1- Nº de jogadores na frente. 2 extremos + 1 avançados + 1 médio criativo. Não há volta a dar no que toca ao aumento de fluxo na frente. Muitíssima gente neste fórum defendia o ano passado e nos anteriores que esta táctica "á Jesus" era a essencial para ganhar a nossa liga. Contra adversários fechados e de má qualidade na frente, insistir em posse inconsequente sem números na frente era suicídio. Lopetegui e Nuno enterraram épocas inteiras sem perceber isso.
2- Aumento da pressão na frente em vez de esperar pelo adversário. As oportunidades de golo em catadupa dos últimos jogos estão relacionadas não só com o aumento de efectivos no ataque mas também com uma filosofia nova em que pressionar as equipas adversárias à saída da sua defesa é o mais importante paradigma.
3- Envolvimento ofensivo geral. Não é por ter mais homens que as coisas correm automaticamente bem. Temos visto ultimamente grandes movimentações onde os alas e os extremos se multiplicam no apoio ofensivo. Existe sempre linhas de passe para as alas e hipóteses de combinações. O facto de haver tanta gente em processo ofensivo cria severas dificuldades às defesas que tem de se "esticar" muito na marcação a alas e extremos deixando muitas linhas de passe no meio onde a pujança física de Abou e Soares tem dado frutos.
Problemas:
1- O nosso meio campo está muito permeável defensivamente. Isso tem obviamente a ver com os pontos indicados acima nas melhorias pois, o aumento de números na frente e a persistência em movimentações de pressão alta e dobragens nas alas entre extremos e alas. causa uma estrondosa e clara quebra na estabilidade do meio campo.
Repare-se que não é a defesa em si que está mal mas sim a forma como as equipas nos causam perigo quando ganham a bola e saem em contra ataque.
Por pelo menos 3 vezes no resumo do jogo de ontem vi os jogadores do Depor sair a jogar e Brahimi e Corna (essencialmente Brahimi) estar completamente alheado da pressão ao jogador e recuperação do espaço defensivo. Isso causou sempre remates que podiam ser perigosos caso o adversário fosse outro.
Com a ausência de um verdadeiro 3º médio "box to box" a proteger o avanço pelas alas, deveriam ser os extremos a fechar e pressionar intensamente a zona das alas e, se for necessário, recuperar para uma posição de médio. Isso não aconteceu e foi isso que tem causado situações repetitivas de contra ataques e avanço pelo nosso meio campo sem real oposição.
Tivemos sorte nos últimos dois jogos do adversário não acertar.
Igualmente notei uma certa precipitação na hora de construir a partir da defesa. Danilo fez um mau passe quando estava sozinho no meio de 3 e quis antes de mais virar-se para construir. Nota-se que está empolgado com o processo e correu mal. A mesma coisa aconteceu no jogo de ontem. Corona também teve um mau passe logo ao início um pouco sintomático destes novos movimentos que os jogadores tem de ter neste sistema,
RESUMINDO:
Aprecio a valentia ofensiva que demonstramos. É um balde de água fria que vem quebrar a monotonia exasperante que era o futebol de Nuno e Lopetegui que recusavam, simplesmente, jogar à bola.
Contudo URGE tomar em mão o assunto dos desequilíbrios do meio campo quando perdemos a bola. Sinto que todo o trabalho defensivo ainda está por fazer. Qualidade neste sector não falta. Conceição terá sim de por dois extremos sem qualquer aptidão defensiva a correr para trás com intensidade e fazer o mesmo a Soares e Aboubakar pelo centro do terreno.
Gastar energia na frente não custa. Custa sim é gastá-la a vir para trás quando passas uma vida a achar que não é essa a tua função.
O sucesso desta época depende da capacidade de Conceição em criar equilíbrio entre a vontade galopante de atacar e os espaços que deixamos atrás para que isso seja possível.