Desculpem o post longo, passem à frente se não quiserem ver um desabafo para o muro de lamentações do fórum.
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Achava que nunca tinha partilhado aqui mas na verdade descobri agora que já o tinha feito no passado. Não que interesse muito mas acredito que não seja caso único no universo portista e, infelizmente, olhando para posts que fiz aqui há 10 anos, nada mudou. Quer dizer, na verdade mudou mas para pior.
São 10 anos!
A minha família tomou a decisão conjunta (e dificil) de deixar de ser sócia há cerca de 10 anos atrás. Várias gerações de sócios, alguns desde a nascença (como o meu caso), motivadas por razões diferentes (e algum desgaste) mas que se tocavam no fundamental. Só o meu avô se manteve sócio porque idolatra e é um fã inveterado do Pinto da Costa e portanto no caso dele, e pondo em perspectiva que viveu o antes e depois de PdC, compreendi sempre a lealdade e continuidade.
Mas o que interessa é que se fosse hoje, tinha feito exactamente o mesmo. Custa não ir ao estádio tantas vezes pelos preços proibitivos e custa na parte conceptual, de não contribuir para ajudar o clube mas esta última é precisamente um dos motivos pelos quais saí. Ainda que as receitas com quotas e bilheteiras sejam uma fracção mínima das entradas, é o simbolismo da coisa que pesou e pesa para mim.
Às vezes penso em voltar. Principalmente quando há assembleias gerais e/ou eleições e não contribuo para mudar o estado das coisas. Mas há dois "momentos" na época em que a revolta/desilusão o impede: apresentação de contas e mercados de verão/inverno.
Havia uma altura em que tudo no clube me surpreendia em termos de gestão: lembro-me de ler artigos do Rui Moreira e do Miguel Sousa Tavares a pôr em causa decisões da direção mas esta estava sempre dois passos à frente de tudo e de todos nós. Acabávamos sempre parvos pela inteligência na gestão - e depois na comunicação, sempre on point com uma ironia e inteligência fascinantes e uma capacidade de antecipar jogadas dos adversários muito antes de as fazerem. A construção de planteis nem era tema - eram épocas em que o titular começava a ser cobiçado e o substituto já crescia na sombra dele.
Hoje em dia é só deprimente. As críticas são as mesmas ano após ano mas nos pontos que toquei acima:
- gestão do plantel anedótica em que se arrancam épocas com três laterais direitos e um esquerdo sem qualidade para titular; em que se perdem titulares e se demora meses a encontrar um substituto que raramente não é comprado inflaccionado e necessita de adaptação; em que se arrastam jogadores a titulares em final de contrato e sem qualquer sinal de renovação (e consequente receita financeira numa potencial venda) e em alguns casos com rendimento desportivo discutível; etc.;
- gestão de comunicação digna de uma empresa de vão de escada: um diretor de comunicação que oscila entre ser um neandertal com acesso ao Twitter e ser o único defensor público do clube quando existem polémicas; um atraso constante de reacção a todos os temas que afectam o clube, excepto aqueles que afectam o presidente; comunicados extemporâneos, que às vezes parecem escritos por estagiários - isto quando existem e a comunicação do clube não é remetida a um canal que ninguém vê ou a um e-mail que ninguém subscreve ou quer saber;
- gestão financeira danosa, liderada por um tipo que sempre foi político e não gestor, e que conseguiu passear incompetência por todos os cargos públicos e privados que exerceu;
- formação que é ultrapassada por clubes como Braga, Rio Ave, etc.. Ausência de Academia. Ausência de escalão sub-23. Gestão ridícula da B;
- modalidades em declínio, à excepção do Andebol; sucesso no Ciclismo manchado pelo dopping que até posição pública em contrário, é uma vergonha para a instituição. Futsal é uma miragem.
E em termos de títulos no futebol, muitas vezes usados como argumento quando esta conversa é tida depois de sermos campeões, deixo só isto aqui:
- últimos 10 anos: 10 títulos (4 campeonatos, 2 taças, 4 supertaças)
- dez anos anteriores: 23 títulos (coincidiu com Mourinho e AVB) (8 campeonatos, 5 taças, 6 supertaças + títulos internacionais)
- período de 10 anos anteriores (92/93 - 01/02): 16 títulos
10 anos de uma gestão completamente em declínio e em que não foram criadas quaisquer bases para os 10 anos seguintes serem o de regresso ao sucesso da década anterior.
Talvez me volte a fazer sócio apenas para tentar votar contra isto - tenho que ver se os estatutos o permitiriam. De qualquer forma... 10 anos!