O novo número dois de Pinto da Costa
por ANTÓNIO PEDRO PEREIRA
A resposta mais frequente de Antero Henrique, director-geral da SAD do FC Porto, aos rumores de que era "benfiquista em Vinhais [Trás-os-Montes]", onde nasceu a 7 de Abril de 1968, é um sorriso trocista. O delfim de Pinto da Costa, o transmontano a quem Pinto da Costa delegou uma fatia de poder no futebol profissional nunca antes imaginada (depois de PC talvez só Teles Roxo tenha mandado tanto nessa área), é um homem que subiu a pulso no clube e na SAD, mas que retribuiu ao lendário líder portista da única forma que este aprecia: ganhando, e com lealdade.
Quando Pinto da Costa assumiu a presidência do FC Porto, em Abril de 1982, Antero José Gomes da Ressurreição Henrique andava de livros debaixo dos braços em Bragança, ali ao lado de Vinhais, onde ainda hoje vivem os pais, o sargento Henrique, reformado da Guarda Fiscal, e a mãe, professora primária aposentada. De piada em piada, animando os grupos de amigos que vai cultivando à distância nos segundos que lhe restam do trabalho no FC Porto, estava longe de lhe passar pela cabeça chegar a número dois de Pinto da Costa. Mas é aí que se encontra. Ora se o futebol é, como é, a actividade mais importante do universo portista, depois de Pinto da Costa ninguém, actualmente, interfere tanto na vida do Dragão como Antero. "É uma pessoa que sabe agarrar as oportunidades da vida, e nisso está de parabéns", relata ao DN Sport Américo Pereira, presidente da Câmara de Vinhais, que conhece bem a família, mas não passa dos cumprimentos formais com o director-geral da FC Porto, Futebol SAD.
Porque foi assim que cresceu o Antero dirigente: autodidacta, implacável profissionalmente (há quem o rotule de eucalipto, por secar tudo à sua volta) e dinâmico. Daín que tenha ficado conhecido no meio dos jornalistas que acompanhavam o clube quando liderava o departamento de comunicação, como um anti-Malheiro (antigo director de comunicação do Benfica). Ou seja, de Antero vê-se-lhe o rosto, mas só se lhe ouve a voz nos contactos interpessoais. Nada de entrevistas, de protagonismo.
Isso tem jogado a seu favor num crescimento apoteótico. Isso e a inteligência de ir aprendendo com quem faz bem. Antero, que foi para o Porto completar o secundário, por volta dos 18 anos, começou a colaborar com o FC Porto na área, ainda amadora, da organização de jogos e da coordenação da Revista Dragões, uma criação de Pinto da Costa. Estávamos nos primeiros anos da década de 90, Antero já tinha ultrapassado uma experiência breve como empresário (teve um restaurante na zona da Batalha, mas durou pouco), mas contacto com o Estádio das Antas só tinha tido um - dia que não esquecerá é o de 27 Maio, quando em 1987 foi lá festejar com amigos o primeiro título europeu do futebol do clube.
Da revista Dragões, Antero Henrique saltou para a assessoria de imprensa. E, com a chegada da SAD e da exigência da Liga dos Campeões (aí bebeu muito do seu saber de organização, de qual é fanático), estruturou o departamento de relações externas, aproveitando esta experiência para se aprimorar em áreas sacramentais: as línguas e as novas tecnologias.
Ganhando preponderância crescente, foi somando pontos junto do presidente, pela eficiência e capacidade de trabalho. E pela lealdade: durante a fase quente do "Apito Dourado", em 2004, nunca largou o presidente. Tornou-se na sua sombra e numa espécie de adjunto. No Verão seguinte, após a deprimente temporada 2004/05 (bem, não tanto: houve a Taça Intercontinental), foi promovido a director-geral para preparar a época 2005/06. Daí para cá, foram dois campeonatos em dois possíveis, uma Taça de Portugal, uma supertaça. Auspicioso. |