Muitos vão agarrar-se à inconsistência das múltiplas declarações de amor do jogador ao Sporting, depois ao Benfica e finalmente ao Sporting outra vez. São simples faits-divers que, notem bem, interessam zero. Zero vírgula zero. Falamos de futebolistas profissionais, que deixam sempre tudo em campo para defender o emblema que os contrata, independentemente da sua paixão ser desta ou daquela cor.
Outros, finalmente, vão recordar o incidente alegadamente racista com Marega na final da Taça da Liga de 2018 e, aqui sim, pode haver pano para mangas. Não sei se as palavras que o FC Porto na altura atribuiu ao jogador foram mesmo proferidas ou não e, se o foram, se saíram da adrenalina de um jogo renhido ou se prefiguram um real defeito de caráter que vá além da tendência para falar sem pensar. O racismo é um perigo real da sociedade, que convém não ignorar nem desvalorizar, mas daquilo que conheço de Coentrão e do que me contam os que com ele jogaram acerca da forma com que ele vive, creio que se ele em campo, no calor da luta, chamou “preto” a Marega o terá feito com a mesma motivação pela qual poderia ter chamado “orelhudo” a Herrera, “barbudo” a Felipe ou “careca” a Brahimi. A ter acontecido, foi uma idiotice, de que Sérgio Conceição certamente está consciente e acha que conseguirá esclarecer dentro do grupo. E não há-de ser isso a impedir Fábio Coentrão de ser alternativa a Alex Telles na lateral esquerda portista ou até de voltar a ser opção para o meio-campo, como chegou a ser na seleção nacional.