Mi casa es tu casa
Roberto,
Tenho muitas saudades tuas. O pouco tempo que passámos juntos deixou-me marcas profundas. Foi como um amor de Verão: curto, mas muito bem aproveitado. Confesso que ao início tive muitas dúvidas em relação a ti - um gigante vindo de outro gigante parece assustador. Mas depois vi a tua estreia num jogo de pré-época, quando sais da baliza desamparado, a bola bate à tua frente e entra em chapéu. Lembro-me que o M. parou uns segundos para processar e que depois disse: “Esta jabulani é lixada”. Coitado, nem te deu valor nenhum. O problema para ele era a bola. Mas eu vi logo: tu, Roberto, eras a minha solução.
A verdade é que uma pessoa passa anos a torcer para que o guarda-redes do rival seja como tu. Eu tinha o Baía, mas tinha de aturar o Preud’homme. Ainda levei com o Schmeichel, mas os deuses compensaram-me com o Ricardo. E, quando eu já sentia falta de um alvo fácil, apareceste tu. Tu, Roberto, com aquele ar de menino órfão que sofre de bullying nos relvados, provavelmente estás no top 10 de coisas boas que o futebol me deu. Por isso não penses que estou a gozar – o que sinto por ti ainda hoje é sincero.
Eu sei que nós não te facilitámos a vida no Dragão, cheio daqueles cartazes com o objectivo de te desconcentrar, e com aquele frango solto no relvado a demonstrar várias semelhanças contigo. Mas para mim, Roberto, tu foste um herói nessa noite – em cinco golos que sofreste, não tiveste culpa em nenhum!
Essa fabulosa época deu-me muitas histórias para contar mais tarde. Na nossa sala, chegámos a ter uma foto tua que saiu num jornal desportivo, quando, no jogo contra o Nacional, a bola vai tão devagar na tua direcção que até já se vê o Cardozo a correr para a frente à espera do contra-ataque. Mas era nesses momentos que tu te superavas: ficaste a olhar e a bola entrou. Foi lindo.
O culminar da nossa paixão deu-se na Luz. É verdade que o Porto era tão superior que poderia marcar em qualquer altura, de qualquer forma. Mas tu não resististe a despedir-te desse campeonato sem qualquer emoção: aquele meio remate, meio cruzamento do Guarin entrou tão elegantemente na tua baliza que soube ali que te iria ficar eternamente grata.
O problema, Roberto, é que o teu regresso à Luz trouxe-me um amargo de boca. Estava mesmo a contar que, por uma vez, cedesses à tentação de chamar a atenção e que passasses ao lado da partida mais entediante que vi este ano (e eu fui ao Restelo ver aquela merda, por isso imagina). Fiquei com aquela sensação de ser traída, por estares a dar prazer a outros que não eu. Não era justo, logo a mim que sempre te aclamei.
Mas a nossa história não podia acabar ali, tu tinhas de provar-me que ainda havia uma réstia de esperança para nós os dois. E lá, em Antenas (Jorge Jesus dixit), tu revelaste um novo Roberto que já não me deu tantas gargalhadas, é verdade, mas cujo resultado final me deixou tão satisfeita como naquelas derrotas do benfica com a tua marca.
Por isso, Roberto, quero que saibas que tens aqui uma fã. Estou-te sinceramente muito agradecida pelo que fizeste por mim e sinto que nunca te vou conseguir retribuir tamanha bondade. Se algum dia te faltar alguma coisa - um abraço, um incentivo, uma palavra querida - é só bateres à minha porta. Mi casa es tu casa. Tenta só aparecer quando o M. estiver a trabalhar porque ele está capaz de te matar. E ambos sabemos que tu não ias conseguir agarrá-lo a tempo.