″O Benfica é como um polvo que abrange toda a elite de Portugal″
Rui Pinto e o futuro do Football Leaks: ″Sejam pacientes, vamos ver o que vai acontecer″~
″Os guardas dizem-me que Portugal precisa de mais pessoas como eu″
entrevista ao Der Spiegel
O poder do futebol e o exemplo do Benfica: "O futebol é intocável. As autoridades protegem essa indústria. Veja o exemplo do maior clube português, o Benfica. É como um polvo, cujos braços abrangem a toda elite de Portugal. O clube está intimamente ligado à polícia, às forças judiciais e à política. Recebem regularmente bilhetes VIP para os jogos do Benfica. Seria um enorme conflito de interesses se eles tivessem que examinar seriamente o clube."
Crítica às autoridades: "As autoridades portuguesas têm medo do que eu sei. É por isso que não posso perder a cabeça em nenhuma circunstância. Há autoridades de outros países que estão dispostas a cooperar comigo e a usar a informação que eu tenho para resolver crimes no mundo do futebol. Não é incrível? Em Portugal, não só os denunciantes são criminalizados como as pessoas que os querem apoiar. "
O pedido do Ministério Público: "A Procuradora disse-me que a única coisa que queria de mim como cooperação era que me assumisse culpado. Ela não quer utilizar a informação do Football Leaks, apesar de ter imensas provas de crimes no mundo do futebol."
O único arrependimento: "Arrependo-me do primeiro contacto com a Doyen em 2015. Foi ingénuo e foi um erro evidente. As autoridades interpretam como uma tentativa de extorsão e usam isso para me ter preso. Abordei a empresa para testar o valor da informação, nunca tentei extorquir dinheiro."
Os 147 crimes de que é acusado: "Parece um grande número, mas provavelmente estou a ser acusado por coisas que não fiz. Toda a acusação é tendenciosa. Ter acedido à PLMJ [empresa de advogados] devia ser contado como um crime, mas os investigadores contam todos e cada um dos endereços de e-mail e acrescentam 70 crimes."
Definição de hacker: "Não me considero um hacker. Para mim isso é entrar num sistema informático com más intenções e explorar isso. Nunca fiz nada disso."
Football Leaks está parado. Não haveria mais pessoas? "Sejam pacientes. É verdade que eu era o rosto do projeto. Mas vamos ver o que vai acontecer no futuro."
Pormenores da investigação: "Um exemplo: há um disco rígido que foi criado por outra pessoa em Sarajevo. Infelizmente, quando foi detido, tinha-o comigo porque queria fazer cópias. As autoridades atribuem-me muitos crimes que não foram cometidos por mim. Mas não vou denunciar ninguém."
Expectativas para o julgamento: "Duvido que vá ter um julgamento justo. Acho que o caso vai chegar ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, porque Portugal não está preocupado em proteger os denunciantes. Se um editor de um jornal diz que sou um criminoso não me queixo, é liberdade de imprensa. Só peço uma análise honesta a tudo o que o Football Leaks alcançou. E, até agora, não tem sido."
Uma promessa para o futuro: "Continuo com vontade de combater o crime no futebol. Um dia vou deixar a prisão e vou falar em conferências e publicar artigos. Precisamos de mais regulamentação. A Comissão Europeia tem de intervir, só este ano é que a UE passou a vigiar a lavagem de dinheiro no futebol."